CADERNO 3 - FESTIVAL - AO DEUS ROCK - 07/FEV/2008




Durante duas noites, dez bandas reverenciaram o Deus-Rock, dando uma opção ao mela-mela em Tejuçuoca

Todos os rituais foram cumpridos, mesmo que o número de fiéis ainda não estivesse à altura das outras liturgias semelhantes — as da época, em favor dos festejos carnavalescos, com os funks, forrós e axés das “paredes” de som, ou aquelas de sempre, espiritualistas, eminentemente cristãs, em nome do Deus que não é carne. Assim, em pleno Carnaval, se deu o retiro iconoclasta dos rockeiros cearenses, pelo segundo ano consecutivo botando fé numa alternativa legítima às opções mais naturalmente repetidas. Ano passado em Guaiúba, o II Festival Rock Pé-de-Serra deu uma chacoalhada na pequena Tejuçuoca, cujo topônimo de origem indígena, “Morada dos Tejos”, passou a significar, ao menos nestas noites do sábado e domingo, “Morada do Rock”...

No lugar do mela-mela, a Casa de Cultura da cidade foi cenário do rock melódico. E outras derivações do gênero. Sons, idéias e posturas estranhas para um público mais acostumado com os decibéis acavalados que invadem as casas e a praça Raimundo Sales Neto, onde a noite de domingo programava a atração mais habitual, a banda Balanço Sensual. Claro, a maioria continuou fiel ao Deus mela-mela, lá mesmo ou nas vizinhas Apuiarés, Pentecoste, General Sampaio. E fiel ao Deus-cristão, representado pela missa, ritual que levou ao atraso da programação, a pedido do prefeito, mesmo empolgado com a repercussão que teve o evento do projeto Semente das Artes.

Do lado dos rockeiros, devidamente enclausurados com seus decibéis e estranhamentos, a certeza de estar fazendo algo em favor de outras atitudes. Felipe Salt, ali nas guitarras da Mafalda Morfina, resumiu o pensamento de outros como Berg Menezes, da Relicário. “É uma satisfação. A gente tenta fazer com que as pessoas pensem, não fiquem com essas músicas da mídia e que não dizem nada”. Como ele, outros rockeiros de vários bairros da capital, tão longe e tão perto desse Deus-Carnaval.

O que eles pensam

E Tejuçuoca virou a “Morada do Rock”...

"Conseguimos repetir esse festival, em pleno Carnaval. Mas no ano que vem , pretendemos levá-lo para Fortaleza, ampliando uma iniciativa que deu certo" (Jofran Fonteles, Produtor do Festival)"

Com a ajuda do artista plástico Eliseu Joca, fiz uns versos sobre o rock. Acho que é Carnaval também, eles dançam, gritam e pulam do mesmo jeito" (Joaquina Sousa, Dona Dadá, Cordelista)

"Aqui tudo é novidade. Principalmente pros adolescentes. Aqui, Carnaval é só funk, forró e briga. Amei, já morei em Fortaleza e gosto de CPM e Marcelo D2" (Eliene Sousa e Diana Pereira, Moradoras de Tejuçuoca)

"Graças a Deus aqui não tem muito Carnaval. Levei o Diego e gostei. Foi um movimento danado, mas ontem (sábado) terminou cedo, umas dez e meia" (Maria Marsílvia e Diego Duarte, Moradores de Tejuçuoca)

HENRIQUE NUNES
Enviado a Tejuçuoca



LINK DA MATÉRIA DO JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE - CADERNO 3 DO DIA 07 DE FEVEREIRO DE 2008
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=509591

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