Desde 2014, quando conhecemos a artista plástica Misá, articuladora e ativista cultural, que se interessou por ações e
projetos que realizávamos pelo Ceará, como: NAE – Núcleo de Artes, Educação e
Eventos, Percussão Ambiental, Cine Clube Comunitário, Curso de Produção de
Eventos, entre outras tecnologias sociais que desenvolvemos.
O namoro foi aumentando quando o grupo do movimento
Pachamama que se reunia na sede do Instituto Semente das Artes começou
planejar ações no continente africano.
Em 2016 fizemos reuniões e planejamentos, tanto em
Fortaleza como na Meruoca, onde definimos, em conjunto com Misá, em Cabo Verde,
quando e onde iríamos realizar nossa visita.
Misá é como é conhecida Maria Isabel Alves. Depois
de anos fora de seu país, volta à terra da sua alma, tornou-se numa ativista
cultural das aldeias de Porto Madeira e dos Rabelados em Espinho Branco.
Originária da Praia, teve uma infância cheia de
imaginação proporcionada pelo silêncio da natureza que a tornaram criativa e
com uma dimensão espiritual muito independente.
Até aos 2 anos viveu com a mãe no Paiol, mas a
pedido de uma amiga, foi viver para Porto Madeira, onde "não haviam, nem
televisões nem espelhos, só a natureza", como relembra Misá.

No dia 12 de janeiro de 2017, Portal Vida, Movimento
Pachamama de Fortaleza, Glauciane Oliveira, secretária de assistência social
de Maracanaú e Instituto Semente das Artes partiram para Santiago, capital de
Cabo Verde, na cidade da Praia. Onde ficamos até o dia 26, com a sensação de dever cumprido.
Cabo Verde, oficialmente República
de Cabo Verde, é um país insular localizado num
arquipélago formado por 10 ilhas vulcânicas na região central do Oceano Atlântico. A cerca de 570 quilômetros da costa da África Ocidental, as ilhas cobrem uma área total de pouco mais de 4.000 quilômetros quadrados.
Os exploradores portugueses descobriram e colonizaram as ilhas
desabitadas no século XV, o primeiro assentamento europeu nos trópicos. Idealmente localizado para o comércio de escravos no Atlântico, o arquipélago prosperou e muitas vezes chegou a
atrair corsários e piratas, entre eles Sir Francis Drake, na década de 1580. As ilhas
também foram visitadas pela expedição de Charles Darwin em 1832.
O arquipélago foi ocupado e, conforme a colônia cresceu em importância
entre as principais rotas de navegação entre Europa, Índia e Ausatrália, a população aumentou de forma constante. No
momento da sua independência de Portugal, em 1975, os cabo-verdianos emigraram
para todo o mundo, de tal forma que a população no século XX com mais de meio
milhão de pessoas nas ilhas é igualada pela diáspora cabo-verdiana na Europa, na América e na África.
A economia cabo-verdiana é principalmente focada no crescente turismo e
em investimentos estrangeiros, que se beneficiam do clima quente o ano todo, da
paisagem diversificada e da riqueza cultural, especialmente na música.
Historicamente, o nome "Cabo Verde" tem sido usado para se referir ao
arquipélago e, desde a independência, em 1975, ao país. Em 2013, o governo
local determinou que a designação em português "Cabo Verde" passaria
a ser utilizado para fins oficiais, como na Organização das Nações Unidas (ONU).
Nossa jornada, em nosso planejamento tinha como primeiro foco a comunidade
dos Rabelados. Uma comunidade
religiosa que se encontra principalmente no interior da ilha de Santiago de Cabo Verde. Formaram-se a
partir de grupos que se revoltaram contra as reformas na liturgia da Igreja Católica, introduzidas na década de 1940, e se isolaram do resto
da sociedade, correndo hoje risco de extinção.
Nos anos quarenta
do século XX a Igreja Católica enviou para Cabo Verde alguns padres
para substituir os locais, introduzindo alterações na celebração das missas e
nos costumes religiosos, nomeadamente o ensino da religião.
Alguns grupos da
população rebelaram-se contra essas alterações. Conhecidos em crioulo como Rabelados (rebelados, revoltados), passaram a
exercer as suas antigas tradições na clandestinidade.
Os Rabelados foram
ridicularizados pelo resto da sociedade, denunciados e perseguidos. As
autoridades desterraram-nos para outras ilhas e muitos chegaram a ser detidos.
Obrigada a formar
grupos coesos para sobreviver, a comunidade dos Rabelados refugiou-se
principalmente no interior de Santiago, nas zonas montanhosas de difícil
acesso, nomeadamente nos conselhos do Tarrafal e de Santa Cruz. Nessas condições de
semi-clandestinidade e isolamento foram preservadas as tradições religiosas e
culturais e a independência face à hierarquia católica e ao poder político.
Com isso, Misá,
que já faz um trabalho de fortalecimento e valorização da cultura desse povo,
orientou a comunidade para nossa chegada, onde todo o projeto foi desenvolvido.
Lá fomos recebidos pelas lideranças locais: Tom, e os artistas Tchecho, Sabino e Fito, que mostraram a sede e local de exposição de seus trabalhos.
Nos três primeiros dias que estivemos na comunidade dos Rabelados, tivemos momentos com os moradores: mulheres, crianças e adultos e com isso preparamos as atividades que iríamos realizar nesses primeiros dias. Entre as principais ações realizadas, destacamos: Contação e histórias, Cine Clube Comunitário, Cirandas, Conversas com as griôs, parteiras, erveiras, PERCUSSÃO AMBIENTAL, além de momentos de muitas brincadeiras.
A maior comunidade
de Rabelados vive atualmente em Espinho Branco. As habitações são muito simples e os Rabelados. Dedicam-se principalmente à agricultura, à pesca e
ao artesanato. Os atos religiosos são realizados aos sábados ou domingos.
Nesses dias não trabalham, percorrem grandes distâncias a pé até aos locais de
culto e jejuam até meio da tarde.
Os Rabelados
tendem a desaparecer, à medida que a geração mais velha vai morrendo. Os mais
novos afastam-se das tradições religiosas e já não encontram sentido nas
práticas dos seus antepassados. O chefe da comunidade, Nho Agostinho, morreu em
2006. O atual líder é Moisés Lopes Pereira. A comunidade em Espinho Branco é
composta por cerca de 2000 pessoas.

Recentemente houve
alguma abertura ao exterior e estudos sobre esta comunidade. Júlio Monteiro
escreveu Os rebelados da ilha
de Santiago de Cabo Verde (Centro
de Estudos de Cabo Verde, 1974).
No ano 2004 foi gravado um CD com os cânticos
religiosos dos Rabelados, que inclui temas tradicionais raramente interpretados
por outros: Cânticos sagrados
de Cabo Verde - A litania dos Rabelados (Abidjan/Quintalvideo).
A pintora Misá também tem trabalhado na divulgação da cultura e tradições da
comunidade, tendo levado pintores Rabelados, como Tchetcho, a participar na
ARCO, Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid, em Fevereiro de
2007.
Historicamente, os
Rabelados permanecem um símbolo da resistência e espírito de independência do
cabo-verdiano face aos poderes instituídos.
Na volta para a cidade da praia, aproveitamos para conhecer parte da cultura local. Fomos um dia a Cidade Velha que localiza-se no conselho da Ribeira Grande de Santiago, a 15 quilômetros a oeste da Praia, na costa de Cabo Verde. Constitui-se na primeira cidade construída
pelos europeus nos trópicos e na primeira capital do arquipélago de Cabo Verde. Foi primitivamente denominada como Ribeira Grande,
vindo a mudar de nome para evitar ambiguidade com a povoação homónima,
na ilha de Santo Antão.
Tivemos a oportunidade de ver uma banda local tocando em uma novena e fazendo um cortejo. O mais interessante é que o maestro tinha estudado música na Universidade Estadual do Ceará - UECE, e participamos da festa no final.
A 10 de junho de 2009 foi classificada como uma das 7 maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. Devido à sua história, manifestada
por um valiosos patrimônio arquitetônico, a 26 de junho do
mesmo ano foi classificada pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade.
Também visitamos a comunidade de Porto Madeira, onde há a casa de Misá e também diversas esculturas gigantes se confundem com a vegetação local. Lá fizemos brincadeiras e distribuímos brinquedos e livros,
Um dos
encontros mais maravilhosos que tivemos em Cabo Verde foi o encontro com as
batukadeiras Flor Di Rabenta – As Coroadas de Kabu Verde .
Visitamos o bairro de São Pedro onde moram as integrantes do grupo.
Conhecemos suas vidas, o trabalho e fomos brindados com uma apresentação cheia
de alegria e hospitalidade. Sentimos-nos no Ceará, até a molecagem cearense estava
presente. Na oportunidade fizemos o convite para o grupo fazer uma apresentação
na semana seguinte na comunidade dos Rabelados, no encerramento de nossa
participação naquele país.

No dia
marcado, estavam elas, lindas e poderosas, com sua elegância e nobreza. Foi uma
apresentação magnífica, que inspirou o grupo de batukadeiras dos Rabelados a
voltar o grupo e também se apresentar no dia do evento.
Um dos momentos mais marcantes, foi quando estávamos voltando, o grupo alegre e cantante como sempre, fez uma parada e começou a dançar, tocar e cantar dentro de túnel. Casa de espetáculo mais inusitada não vimos. Os carros paravam e fotografavam a apresentação fenomenal das meninas.
Além do batuku, outro gênero musical que conhecemos foi o funaná, que caracteriza-se por ter um andamento variável, de vivace a andante, e um compasso binário. O funaná está intimamente associado ao acordeon, mais precisamente ao acordeon diatônico, conhecido em Cabo Verde por gaita.
Este fato vai influenciar uma série de aspectos
musicais que caracterizam o funaná, como por exemplo, o facto de, na sua forma
mais tradicional, usar apenas escalas diatônicas e não escalas cromáticas. O funaná é bastante semelhante as
guitarradas de Vieira, Solano e outros mestres da guitarra da região Norte do
Brasil e um pouco de carimbo e lambada.

Agradecemos a todos que colaboraram com esse projeto, desde: Misá, Nação Pachamama, Portal Vida, Mãos a Obra, INEC, Centro Cultural Banco do Nordeste, Casa da Cultura de Cabo Verde e Instituto Semente das Artes.

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