NOTÍCIAS EXTRAS - DIÁRIO DO NORDESTE - 10/12/2016
SERRA DA MERUOCA
Comunidade
eleva autoestima em busca de sustentabilidade
A imagem negativa começou a mudar com projetos de desenvolvimento
comunitário
10.12.2016 por Marcelino Júnior - Colaborador
A Praça Ecológica foi construída pelos moradores
( Fotos: Marcelino Júnior )
Meruoca. Encravada na Serra da Meruoca, na Zona Norte do Ceará, a comunidade
São Vicente, com cerca de 177 famílias, foi considerada, por muito tempo, como
o lugar mais sujo da Serra, onde o lixo se misturava à rica paisagem do
Semiárido, dando ao pequeno povoado um aspecto de abandono e total descuido com
o meio ambiente. Essa imagem negativa começou a mudar há cerca de três anos,
com a chegada de projetos de desenvolvimento comunitário, que ajudaram os
moradores de São Vicente, não apenas na questão da consciência ecológica, mas
também no resgate da autoestima.
Projeto Social
Na Comunidade São Vicente, são desenvolvidos diversos projetos, por meio
do Instituto Semente das Artes, que trabalha o desenvolvimento humano,
utilizando-se da cultura, arte e formações ligadas à música e eventos, e do
Núcleo de Artes Educação e Eventos (NAE), tecnologia social que também trabalha
o desenvolvimento humano e socioeconômico, por meio de ações culturais,
ambientais e criativas. Ambos são ligados ao Portal Vida, que divulga a ações e
atividades realizadas, ao longo do ano, na comunidade. Entre elas, o curso de
produção de eventos, que deu origem ao I Festival de Arte Ecologia, realizado
sempre no mês de junho, que agora caminha para sua 4ª edição, no próximo ano.
Conscientização
É na Casa-Escola, feita de taipa, onde funciona a sede do projeto Semente
das Artes e o Portal Vida, que são realizadas diversas formações continuadas,
onde a comunidade tem noções de princípio e educação Biocêntricos, propostas
que consistem na reformulação de valores culturais e sociais, usando como
referencial o respeito pela vida; a Biodança, que promove a ligação do corpo
com a natureza em prol da saúde, consciência ética e alegria de viver, por meio
de música e dança; a Permacultura, sistema de planejamento para a criação de
ambientes sustentáveis e produtivos em equilíbrio com a natureza; além das
propostas para o desenvolvimento humano e a consciência ecológica, que norteiam
as ações.
Início
O primeiro projeto implantado na comunidade, em 2013, foi o NAE - Núcleo de Artes, Educação e Eventos, tecnologia social criada pelo Instituto Semente das Artes e implantada em mais de 60 localidades, depois vieram outros parceiros como Instituto Nordeste Cidadania (Inec), Organização Não Governamental parceira,
que intensifica a implantação de projetos produtivos geradores de emprego e
renda, com objetivo de desenvolver entidades e comunidades de baixa renda, como
é o caso de São Vicente, onde o Bolsa Família e a agricultura de subsistência são
as principais fontes de sustendo das famílias, que tinham como hábito enviar
para os Estados do Sul e Sudeste do País, seus filhos, em busca de uma vida
melhor. Uma realidade que vem mudando por conta dos projetos sociais.
Cassia Regina Xavier de Andrade, coordenadora do Portal Vida, se diz
apaixonada pelo lugar, desde a primeira visita que fez, em 2013, quando
convidada a implantar o primeiro projeto social da comunidade.
"Na época, viemos desenvolver, com diversos estudiosos, a
Permacultura, pelo Inec, com a possibilidade de disseminar no Semiárido
nordestino, um jeito de viver mais digno e despertar a consciência ecológica,
numa comunidade que não conseguia enxergar suas potencialidades. Quando deixei
a presidência do Inec, voltei à comunidade, naquele mesmo ano, e aqui me
estabeleci, para dar continuidade aos projetos", disse.
Visitas
Com as diversas ações já realizadas, a comunidade virou uma referência
no que diz respeito à preservação ambiental e à integração ser humano-natureza,
e hoje recebe visitas para turismo educativo; de estudantes da rede pública da
região, universitários e grupos de pesquisa de países como Estados Unidos,
Argentina e Peru, que buscam novas experiências.
"O que é incentivado aqui é a autogestão, onde a própria comunidade
faz suas escolhas, dentro de suas necessidades. Aqui, são apresentadas novas
possibilidades, por meio dos cursos e eventos, para que os moradores consigam
ver que são capazes e sustentáveis. Temos observado, ao longo desses três anos,
que há uma diminuição no número de jovens que deixavam o lugar em busca de
novas oportunidades. Só isso, já nos deixa, em parte, realizados", afirmou
Jofran Fonteles Borges, presidente do Instituto Semente das Artes.
"Nossa realidade mudou muito com a implantação dos projetos sociais.
Nós precisávamos de entidades que acreditassem no potencial da comunidade e
hoje conseguimos, com muito esforço esse desenvolvimento. Mas ainda há muito a
realizar com a participação de todos", avalia Francisca Maria dos Santos,
que é presidente da Associação Comunitária Sônia Maria, parceira dos projetos.
Enquete
O que representam os projetos?
"Para mim, representam melhorias em todos os aspectos, já que os
cursos nos ensinam a ser multiplicadores das técnicas ensinadas. Eu sou
apaixonada pela Permacultura, que é o aproveitamento de tudo que a natureza
oferece, para o nosso bem-estar, mas de uma forma equilibrada, sem degradar o
meio ambiente. Também faço parte de um coral e uma banda, que participam
ativamente das ações"
Talia Cardoso Braga – Estudante
"Acho que o mais importante para a comunidade de São Francisco foi
a respeito do lixo acumulado, que hoje não existe mais. Antes, as pessoas daqui
não tinham a preocupação com a natureza como se tem hoje. A comunidade era
muito suja. Com a chegada dos projetos, muita gente aprendeu mais sobre
Ecologia e a aproveitar o que a própria natureza tem de melhor a dar, mas sem a
gente destruir"
Andreza dos Santos - Estudante
Link da matéria:
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/comunidade-eleva-autoestima-em-busca-de-sustentabilidade-1.1666822
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